quinta-feira, 12 de novembro de 2009

“Um dia a morte tocou-me”

Um dia a morte tocou-me,
perdido num coma profundo,
subi umas escada, pois algo me chamou,
elas não tinham corrimão
e era um caminho sem fim,
sobre um fundo branco, totalmente branco que quase me ofuscava,
semelhante a um abismo, embora tranquilo,
que não tinha fim, era um infinito,
de repente sem eu menos esperar, avisto uma porta,
ela abriu-se, bem lá no cimo das escadas, mesmo bem lá no cimo,
confesso que já estava cansado de subir,
de repente uma porta abriu-se e aproximei-me
vinha de lá uma luz forte que me encadeou,
avistei um homem de branco com barbas grandes, isso eu vi,
com algo na mão, mas não percebi o que era,
sua cara não me era visível,
porque a luz era intensa e forte, encadeava e ofuscava o olhar,
tinha uma voz de eco, mas calma e tranquilizante,
vinha dele uma luz branca incandescente,
que fez com que não conseguisse ver a sua cara,
apenas o ouvi, apenas o escutei, uns degraus mais abaixo dele,
ele dirigiu-me algumas palavras, calmas e pausadas,
que me acalmaram na minha inquietação,
ele cumprimentou-me mas logo de seguida despediu-se,
com um breve gesto singelo indicando-me que descesse as escadas,
com a sua mão direita, me disse algo e ainda hoje recordo suas palavras:
[ - Para baixo, desce porque ainda não está na tua hora
vai que estão à tua espera,
desce porque há pessoas que estão muito preocupados contigo
eles amam-te e ainda tens uma vida pela frente,
...ainda és muito novo!]
desci correndo como se fosse uma criança,
pulando de alegria não pulando, quase cantando,
sentindo apenas esta alegria no meu interior,
o medo de cair no abismo era muito,
mas mesmo assim voei através daquelas escadas, a pique,
desci o mais rápido que pude, parecia elas que nunca mais acabavam
quando cheguei, parecia que tinha sonhado, acordei,
tudo parecia um sonho e ingénuo contei a todos e ignoram-me como sempre,
pois mais parecia um pesadelo que se tornou em fantasia por uma criança,
era a imaginação de uma criança que voava e que tinha estado inconsciente,
e eu ouvia dizer: é normal ele esteve em coma!
ninguém acreditou em mim, não sei bem porquê? por ser criança? talvez!
mas para mim tudo era tão real, como eu estar vivo naquele momento,
a morte não me quis,
[pelo menos naquele dia naquela hora naquele minuto, naquele momento,
foi assim que cumprimentei a morte,
ela tocou-me e despediu-se,
num minuto que foram dias ou meses que passaram,
mas para mim foram apenas segundos,
uma eternidade para quem me amava,
preso no escuro, negro e ofuscante que me levava para longe,
mas de repente, talvez por causa do amor, pelo amor, por amor,
tudo se tornou mágico, um sonho,
que me guiou para sair daquela estrada sem saída, aquele beco,
e despediu-se apenas com um pequeno gesto e uma palavra,
que nunca mais vou esquecer...
[nunca ninguém acreditou naquela criança!]
 Francisco Júnior – 12 de Novembro de 2009

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